Fotografia: Antonello Veneri.
Como diria meu querido Friedrich Nietzsche, “não existem fatos, apenas interpretações”. Essa frase tão antiga representa muito bem esse período difícil que estamos enfrentando. Agora é hora de união, de empatia e de ajudar o próximo, mas nosso país se divide cada vez mais.
Há os que digam que estamos todos no mesmo barco. Não estamos no mesmo barco, podemos estar na mesma tempestade mas nunca no mesmo barco. Alguns brasileiros estão aproveitando a quarentena pra curtir os filhos e dar um tempo na vida corrida. Outros, perderam seus empregos. Alguns têm Netflix e recebem suas refeições por delivery. Outros, têm péssimas condições de vida e passam fome. Alguns têm a segurança de uma boa conta bancária e não terão problemas em ficar em casa sem trabalho. Outros, esperam desesperados esse tal Auxílio Emergencial que está sempre em análise.
O presidente diz que vidas não têm preço, mas que a economia e o emprego precisam voltar à normalidade, incentivando a população a seguir suas recomendações, mesmo ciente de que o isolamento é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E seus apoiadores, que enxergam suas palavras como verdade absoluta, estão indo às ruas buscando o fim do isolamento, e acreditam que o número de mortes é muito pequeno para que medidas tão drásticas sejam tomadas. Já o Ministério da Saúde diz que devemos manter o isolamento social para diminuir o número de contagiados pela doença. Essas divergências de opiniões entre o ministro e o presidente sobre as medidas a serem tomadas nesse momento levaram à demissão de Luiz Henrique Mandetta, agora ex-ministro da saúde, em meio a uma grave pandemia mundial.
Bolsonaro fez um pronunciamento em que pediu o fim do confinamento, a volta da normalidade, e disse que os meios de comunicação espalharam o “pavor”. Após essa declaração, ao menos 25 dos 27 governadores do nosso país informaram que manterão as medidas de isolamento. Esses governadores, indo contra nosso líder. Bando de traidores! Se preocupam mais com vida das pessoas do que com a nossa preciosa economia.
Os brasileiros estão enfrentando dificuldades e o governo apontou que não tem como manter a ajuda financeira de R$600,00 para a população. Ora, para eles é um absurdo o dinheiro dos impostos ser usado para salvar a população da fome em tempos de pandemia. O dinheiro público deve ser usado em coisas realmente importantes, como os auxílios moradia, a cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap) que custeia passagens aéreas, telefonia, pagamento de condomínio, IPTU, energia elétrica, água e esgoto, TV à cabo, alimentação, combustível, entre outros. O que ainda é pouco para retribuir o que esses homens de bem fazem em prol do bom funcionamento do país.
Muitas empresas alegam não aguentar permanecer fechadas por mais de um mês. Pagar os funcionários enquanto eles ficam em casa não é viável para elas. É preferível que os funcionários trabalhem correndo o risco de contagiar toda a empresa e seus familiares do que deixar os lucros de lado. Afinal, se 50% dos funcionários morrerem há muita mão-de-obra para substituí-los, e quanto à vida de seus familiares, não importam já que não são nada mais que números nas estatísticas.
Enquanto políticos divergem opiniões e atitudes, verdadeiros heróis surgem colocando-se na linha de frente na luta pela vida. Independente de raça, religião e condição social, procuram salvar todas as pessoas igualmente. Não se preocupam com seus baixos salários, com as precárias condições de trabalho, o desrespeito que a profissão sofre, e até mesmo a distância de seus familiares.
E assim o Brasil segue enfrentando a pandemia segundo suas diversas interpretações: uns ficando em casa e outros saindo para trabalhar; uns comprando tudo dos mercados para abastecerem seus armários e outros não tendo como alimentar os filhos; uns usando máscaras e luvas e outros limpando o nariz e pegando na mão de outras pessoas; uns fechando seus comércios e outros abrindo normalmente; uns preocupados com seus avozinhos e outros dizendo que eles não são importantes; uns aumentando os preços dos produtos e outros doando álcool gel e máscaras.
Finalizo a minha interpretação dos fatos pedindo a Deus que tenha misericórdia de mim, pois como a maioria, não tenho histórico de atleta.
Autora: Flávia Cristina Simas Lifonsino - Estudante de Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Henrique Caetano.
Atividade extra-curricular promovida pelo Curso de Comunicação Social - Jornalismo, pelo Observatório da Saúde Coletiva e pelo Site Notícias Gerais.
Originalmente publicado no Notícias Gerais, em 12/05/2020. Disponível em: http://noticiasgerais.net/cronica-brasil-em-tempos-de-pandemia/
Comments