Não me lembro exatamente quando foi a primeira vez que ouvi a palavra extensão ao adentrar no universo da academia, mas lembro que não a compreendia quando começou a ficar recorrente na boca de alguns colegas. Pensava “bem, deve ser alguma atividade que amplia possibilidades, ou seja, estende. Talvez uma atividade de campo? Mas qual a diferença, então, entre extensão e estágio?”. Bem, só depois de algum tempo pude ter uma parte dessas perguntas respondidas. Respostas que, contudo, ainda possuem brechas de abertura inconclusivas. No meio de tantas indagações, era engraçado que mesmo sem saber do que se tratava, ao mencionar a palavra extensão, me vinha imediatamente a imagem de braços se esticando e mãos alongando no esforço de se encontrarem com outras em um gesto de apoio. Talvez essa primeira impressão não estivesse tão errada assim.
A extensão universitária tem como finalidade o intercâmbio entre a pesquisa, a teoria vista em sala de aula e a prática para além dos muros universitários. Pretende, portanto, ampliar as atividades em um movimento que visa a democratização de saberes e do conhecimento a partir da integração com a realidade social. Contudo, faço um apontamento aqui muito importante e cuidadoso. A ideia de democratizar e de expandir o conhecimento pode, por vezes, incorrer em um risco de apenas fazer perpetuar a lógica dos que “detém os saberes” e dos que o não tem, a partir da noção de prestação de serviços, por exemplo. Digo saberes aqui, os acadêmicos e científicos. Esse erro pode fazer ampliar, ainda, a dicotomia que muitas vezes ouço em sala de aula de um “nós” (os universitários, docentes, mestrandos e doutorandos), e “eles” os que estão de fora desse espaço, a comunidade. Claro que não podemos também sermos ingênuos de achar que não há diferenças de poder e de privilégios existentes, mas como buscar mudar lógica?
Talvez as aberturas que ainda existem nas respostas sobre o que é a extensão para mim não possam ser respondidas, pelo de fato de que a prática extensionista deve ter em seu bojo a perspectiva de um encontro que será sempre imprevisível e, por isso, requer ensino e aprendizagem mútuo de diversos saberes (científicos, populares, pessoais) além de muita escuta e diálogo, ou seja, visa uma construção de vias duplas. Isso não quer dizer que estamos em um vale-tudo e podemos prescindir de um projeto com uma metodologia específica de base para sua atuação, mas que haja a possibilidade de abertura, de espaço, de um “entre” que permita as trocas intersubjetivas e a elaboração de propostas, de fato, coletivas.
[Daniela Marras, estudante de Psicologia da UFSJ. Integrante do Estágio Extensionista no OBESC. 17 de junho de 2021]. Diários da Educação: Série Extensão Universitária.
Fotografia de João Lino, estudante de medicina da UFSJ.
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