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Mobilidades extensionistas-afetivas: a arte como cuidado e aprendizagem



Em casa tenho vários objetos de cerâmica, lembranças do tempo em que fui extensionista no Ateliê de Cerâmica da Apadeq. Se algum dia você vier tomar um café na minha casinha, já na entrada, entre flores e folhagens, verá alguns penduricalhos coloridos. Os penduricalhos são móbiles que foram produzidos no ateliê. Olhando um pouco mais longe da minha mesa de estudos, rememorei que os objetos de cerâmica estão por toda minha casa. Corro na garagem e registro uma foto de um móbile feito de peças de cerâmica. O registro marca o móbile, meu gatinho Zabelê e algumas das plantas que comecei a cultivar durante o período de isolamento.

Os móbiles geralmente são compostos por pequenos elementos ligados por hastes finas. Por serem objetos leves e interligados por linhas finas, o móbile possui uma característica de se movimentar e balancear de acordo com correntes de ar que o atravessam. Assim, da mesma forma como o móbile se movimenta com o que lhe atravessa, as vivências na extensão provocaram movimentos que levaram a novas experiências acadêmicas e pessoais no meu cotidiano. De estudante de psicologia a futura ceramista foi um salto muito rápido já nas primeiras idas ao ateliê.

Entre pedras e folhas, as cores dos móbiles destacam-se na garagem e na varandinha do meu quarto. Esses objetos, que parecem tão simplórios, carregam tantas histórias e muito aprendizado. No ateliê tive contato com os processos de modelagem do barro e produção da cerâmica, então exercitei o ensino das artes e conheci prática clínica através de recursos terapêuticos por meio da expressão pela arte. Além da aproximação das artes aplicadas à produção de cerâmica, o projeto de extensão trouxe a possibilidade de estar em contato com diversas pessoas que passavam por tratamento para recuperação do abuso de substâncias químicas.

Arte, terapia, abuso de substâncias, doze passos do AA… eram contingências que perpassavam pelas oficinas de cerâmica. O contato com outro, as histórias relembradas, a produção da arte e o significado que os residentes - e nós extensionistas também- dávamos aos momentos vividos no ateliê ganhavam uma dimensão maior que qualquer tentativa de escrita seria incapaz de mensurar. Eram momentos de troca de saberes e afetos, de escuta e acolhimento, de cuidado e aprendizagem. Nós, extensionistas, pensávamos que sabíamos alguma coisa sobre a arte. Talvez sobre a produção técnica de arte da cerâmica sabíamos algo. Porém na convivência e na escuta atenta do outro, éramos os grandes aprendizes.

Na minha saída do projeto, fiz dois móbiles como lembrança para minha casinha. Um está na garagem. O outro na minha varandinha. Quem passa pela calçada e observa os móbiles pendurados e balançando não imagina quantas histórias e memórias eles emanam com suas cores. São boas lembranças. Histórias e memórias que foram relatadas e vivenciadas durante os processos de produção da cerâmica. Lembranças de como a produção artística pode ser significativa para processos subjetivos terapêuticos e coletivos de criação de vínculos. Um lembrete diário de que a arte salva. Guardo com muito carinho junto com todo o aprendizado e vivências.


[Lidiane Campos Villanacci, graduanda em psicologia pela UFSJ, bolsista de extensão entre 2018 e 2020 no Ateliê de Cerâmica da Apadeq sob a supervisão dos professores Zandra Coelho Miranda e Kleber José da Silva do Departamento de Artes Aplicadas da UFSJ e estagiária no mesmo projeto sob orientação do professor Walter de Melo do departamento de psicologia da UFSJ. Narrativa produzida durante o primeiro semestre remoto de 2021 no estágio extensionista do OBESC-NESC sob a orientação da professora Cássia Beatriz Batista (DPSIC) e do professor Alfredo Nava Sanchez (DECIS)]. São João del-Rei, 11 de julho de 2021. Diários da Educação: Série Extensão Universitária.


Fotografia: Arquivo pessoal da autora. Durante o processo de escrita das narrativas sobre extensão, comecei a desbravar minha casinha procurando as memórias no ateliê de cerâmica. As memórias extensionistas se interligam com as memórias de família, meus afetos felinos e com a jardinagem. A imagem deu origem e definiu o percurso dessa narrativa.

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