Fotografia de Bia Domingues, 2020.
Hoje acordei pensando em como seria o mundo pós-pandemia… Na minha singela utopia, imagino um mundo solidário, justo e fraterno, onde aprendemos a deixar as diferenças de lado em função de um bem maior. Onde vencemos a pandemia da Covid-19 trabalhando juntos. A população, unida para que o isolamento seja efetivo.
Os pesquisadores e cientistas trabalhando em equipe para a criação de remédios comprovadamente eficazes e de até mesmo uma vacina. Os governantes agindo juntos em prol do povo, dando todo o suporte para que o isolamento não torne-se um empecilho na vida dos cidadãos. Onde depois de tanta tristeza tenhamos alegria de poder dizer que vencemos.
Apesar de a minha imaginação projetar um futuro tão distante da nossa realidade e bom para todos, eu não me iludo com isso. Essa pandemia serviu para máscaras caírem e percebermos quem as pessoas são de verdade.
Eu deveria escrever sobre um “novo normal”, mas isso é impossível. Nos meus anos de fundamental muitos colegas meus achavam um desperdício estudar o que já foi e quem já morreu. Hoje vejo como é importante ver os erros do passado para não cometê-los outra vez. A história nos mostra que não existe nada de novo no que estamos vivendo. E eu posso provar.
Já enfrentamos diversas doenças, como a epidemia de Zika Vírus em 2015. A de Febre Amarela em 2017. A de Sarampo em 2018. E agora, em 2020, a pandemia do Novo Coronavírus.
Em pleno séc. XXI vi nos noticiários algo que só tinha visto nos meus livros de história, jornalistas sendo agredidos, xingados e desrespeitados, apenas por estarem fazendo o seu trabalho, que é levar informação. A censura de jornalistas foi grave como está sendo agora durante o período da Ditadura Militar, que teve início em 1964. E já que estou falando dessa época, vale a pena lembrar que foi nesse tempo que o AI-5 foi estabelecido e esse ato institucional ficou conhecido como o mais cruel e antidemocrático de todos. E acreditem ou não, a aproximadamente dois meses atrás houve uma manifestação a favor desse ato por pessoas que se dizem a favor da democracia.
E não para por aí: acreditava-se que em 2020 teríamos carros voadores, mas ao invés disso temos terraplanistas. E não, você não leu errado, são pessoas que realmente acreditam que a Terra é plana. A suposição de um Planeta Terra esférico surgiu no séc. VI a.C, na filosofia grega com Pitágoras, e desde então, milhares de estudos foram feitos comprovando essa teoria.
Outro fato que posso citar são as manifestações nos Estados Unidos. Não tem problema nenhum fazer manifestações na busca pelos seus direitos, acho até correto. O que me assusta é o motivo. Quem diria que na segunda década do séc. XXI, pessoas teriam que ir às ruas lutar para que parem de matar negros como se suas vidas não valessem nada. E deve-se lembrar que a abolição da escravatura nos EUA aconteceu em 1863. Depois de 157 anos é sério que ainda morrem pessoas por terem um pouco mais de melanina? Isso é inacreditável.
Estamos vivendo tempos difíceis, muito difíceis. Quando uma mensagem no “ZAP” tem mais credibilidade que estudos científicos comprovados. Quando a economia vale mais que a vida das pessoas. Enfrentamos uma situação tão crítica que as pessoas estão mais preocupadas com seus empregos do que com suas próprias vidas. Quando negros morrem pela sua cor de pele. Quando LGBT morrem pela sua orientação sexual. Quando mulheres morrem nas mãos de seus parceiros só por serem mulheres. Quando um vírus tirou mais de 30 mil vidas só no nosso país e estamos agindo como se fosse normal, mas não é. Cada vida importa.
E com todos esses fatos atuais que são totalmente retrógrados, posso afirmar que não existe um novo normal. Acredito que as pessoas sairão iguais ou até piores, já que muitas pessoas aproveitaram esse momento para expor suas ideias preconceituosas e suas maneiras de pensar individualistas e egocêntricas. Queria poder dizer que acho que o mundo pós-pandemia será melhor, mas infelizmente, ao que tudo indica, os ricos continuarão ricos. Os pobres continuarão pobres. Os fascistas continuarão fascistas. Os preconceituosos continuarão preconceituosos. Os negros, LGBT e mulheres continuarão a morrer como se não fossem nada. E quem luta para que o mundo melhore, como as ONG e as pessoas verdadeiramente de bem que ajudam o próximo mesmo sabendo que não serão recompensadas, continuarão lutando. As únicas diferenças serão na vida dos familiares das vítimas desse vírus, que não terão mais seus pais, mães, irmãos, tios, tias, avôs e avós, que terão em suas mesas de jantar e em seus corações, lugares vazios.
Apesar de tudo, espero de todo coração estar errada e gostaria que as pessoas saíssem dessa pandemia mais empáticas e solidárias e menos preconceituosas e egoístas. E que aprendam a valorizar a educação, as pesquisas e os pesquisadores, pois vimos que não se mata o vírus com um tiro!
Autora: Flávia Cristina Simas Lifonsino - Estudante de Jornalismo da UFSJ e produziu este texto sob a orientação do professor Paulo Henrique Caetano. Atividade extra-curricular promovida pelo Curso de Comunicação Social - Jornalismo, pelo Observatório da Saúde Coletiva e pelo Site Notícias Gerais.
Originalmente publicado no Notícias Gerais, em 10/06/2020. Disponível em:
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