Sequelas do Covid-19. subs. fem. Em medicina, sequela é o termo utilizado para referenciar consequências fisiopatológicas de uma doença, sejam elas mais tardias ou mais precoces. Em geral, o termo é usado para descrever as complicações adquiridas, permanentemente ou não, após a cura de uma dada patologia. Já a Covid-19 é uma doença infectocontagiosa causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 e causa uma síndrome respiratória, que pode, em alguns casos, ser grave.. Deste modo, “sequelas do Covid-19” designa o conjunto de alterações morfofuncionais e/ou fisiopatológicas que permanecem após a cura da doença Covid-19.
A Covid-19 é uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. É responsável pela maior pandemia do início do século XXI, com mais de 240 milhões de casos e cerca de 5 milhões de mortes no mundo. No Brasil, a pandemia bateu os 21 milhões de casos e ultrapassou 600 mil mortes, sendo um dos países mais afetados pela pandemia, 2º em número de mortes e 3º em relação ao número de infectados.
O agente etiológico da doença (Covid-19), o SARS-CoV-2, é um coronavírus da mesma família que o SARS-CoV, responsável pela epidemia de SRAG de 2003 na Ásia, e do MERS-CoV, causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio. Embora essa nova cepa (SARS-CoV-2) seja menos letal que as demais da família, ela apresenta um potencial de disseminação muito maior, resultando na pandemia, que se estendeu do início de 2020 até o final de 2021, com o primeiro caso reportado em Wuhan, na China.
No que diz respeito à patogênese da doença, estima-se que entre 70 e 80% dos infectados são assintomáticos, enquanto 20% desenvolverão a doença em algum grau, sendo que 5-10% dos
acometidos precisarão de cuidados intensivos. O período de convalescença da doença é de cerca de 3 semanas e o vírus pode ser transmitido até 2 semanas após a cura completa. Além disso, toda a população é suscetível, em algum nível, à doença, levando a um aumento abrupto da taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), resultando em sobrecarga e colapso do sistema de saúde. Quanto aos fatores de risco, eles são associados à gravidade da doença, destacando-se a idade avançada (maior que 60 anos) e a presença de comorbidades (doenças cardiorrespiratórias, diabetes, hipertensão e etc) como os principais fatores de risco para o prognóstico mais grave da Covid-19.
A compreensão do termo “Sequelas de Covid-19” passa pelo entendimento do processo de contaminação pelo vírus, adoecimento e cura da doença. Uma vez que, de acordo com o médico e filósofo George Canguilhem, os fenômenos patológicos são modificações regulares dos fenômenos normais, enquanto a cura pode ser entendida como outra mutação de um arranjo em outro, ou seja, uma nova adaptação a um novo estado normal. Nesse sentido, em “O normal e o patológico”, Canguilhem ainda diz que, no processo de cura, o organismo objetiva conservar ou adquirir determinadas características que lhe possibilitarão consolidar essa nova ordem. Sendo assim, eventualmente, durante a cura, ocorrerão transformações e déficits persistentes em relação ao estado normal passado, mas que se tornam propriedades constantes, ou seja, sequelas da doença. (CANGUILHEM, 1966, p. 62-64).
Dentre as sequelas do Covid-19, a maior parte se concentra em órgãos dependentes do suprimento de oxigênio ou suscetíveis à inflamação generalizada, como pulmões, rins, fígado, trato gastrointestinal, trato hematopoiético, sistema nervoso e o sistema cardiovascular. Sendo assim, no sistema cardiovascular, podemos destacar a propensão do desenvolvimento de coágulos sanguíneos e trombos, especialmente nos pulmões, além de lesões cardíacas agudas, insuficiência cardíaca, miocardite, arritmias e inflamação vascular. Somado a isso, há a possibilidade de sequelas como: insuficiência hepática, esteatose, insuficiência renal aguda (IRA), insuficiência pulmonar, acompanhada de fadiga, cansaço e fraqueza, cefaleia, acidente vascular cerebral (AVC), perda prolongada de sentidos como paladar e olfato, distúrbios neurológicos de sono, linguagem, raciocínio, concentração e memória, depressão e ansiedade, além do agravamento de doenças preexistentes.
A percepção e entendimento sobre as sequelas oriundas da Covid-19 representa um conhecimento humano sobre sua própria natureza, isto é, escanteando-se os princípios microbiológicos e puramente empíricos, a afirmação da superioridade da vida se faz em tom único quando comparada aos momentos de devaneio. Sequela não se resume em deterioração ou infortúnio, mas a aceitação da vida em suas múltiplas facetas. Não se trata de esconder um
sentimento, mas sim reerguer-se nele. Para Foucault (1975), “precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. [...]. Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, criticá-la, usá-la.”
[Cínthia Emanuelle da Costa Sousa, João Pedro Cuzzullin e Rafael Lopes Dutra. Estudantes de Medicina da UFSJ. Trabalho desenvolvido na disciplina de Ciência, Metodologia e Pesquisa social. Verbetes da Pandemia, NESC-UFSJ, 2021].
Sugestões de leitura
COMOLI, Eliane. Sequelas em pacientes recuperados de Covid-19 podem persistir por longo período. unicamp.br. Campinas, 2020. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/07/24/sequelas-em-pacientes recuperados-de-covid-19-podem-persistir-por-longo-periodo. Acesso em: 3 nov. 2021.
SEQUELAS mais comuns pós-COVID-19 e possibilidades de recuperação. vidasaudavel.einstein.br. São Paulo, 2021. Disponível em: https://vidasaudavel.einstein.br/sequelas-mais-comuns-pos-covid-19-e-possibilidades de-recuperacao/. Acesso em: 3 nov. 2021.
CAMPOS, Mônica Rodrigues; EMMERICK, Isabel Cristina Martins; PIMENTEL, Thiago Goes; DE AVELAR, Fernando Genovez; SCHAMM, Joyce Mendes de Andrade; RODRIGUES, Jéssica Muzy; Carga de enfermedad de la COVID-19 y de sus complicaciones agudas y crónicas: reflexiones sobre la medición (DALY) y perspectivas en el Sistema Único de Salud de Brasil. Scielosp.org. 2020. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csp/2020.v36n11/e00148920/pt/#. Acesso em: 2 nov. 2021.
FOUCAULT, Michel. Os anormais. Tradução Eduardo Brandão. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 479 p. Tradução de: Les Anormaux. Disponível em: https://monoskop.org/images/6/62/Foucault_Michel_Os_anormais.pdf. Acesso em: 6 nov. 2021.
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