Refere-se à aplicação de uma vacina, substância antigênica produzida com o objetivo de estimular o sistema imunitário de um indivíduo com o objetivo de prepará-lo para combater determinadas patologias através da criação de uma memória imunológica, visando, desse modo, proteger não apenas o indivíduo vacinado, mas também toda uma comunidade, tendo em vista o potencial de infecção em massa da maioria das doenças virais e bacterianas. Tendo em vista esse impacto produzido pelo ato de se vacinar, é possível entender a relação intrínseca da vacinação com a saúde coletiva, já que as vacinas podem ser entendidas como uma medida de saúde social, pois protegem toda a população, e, em comunidades com alta adesão, possibilitam a proteção até mesmo de indivíduos que não estejam imunizados.
Abordando o tema no contexto brasileiro, é preciso entender o pioneirismo do Brasil na adesão à vacinação, tendo em vista o sucesso do Programa Nacional de Imunizações, criado em 1973, que organiza a política de vacinação da população brasileira no geral, sendo que a alta cobertura, acompanhada pela alta adesão da população, é responsável pela difusão da vacinação no país, ressaltando-se o controle de algumas doenças, como a poliomielite e o sarampo. Não obstante, o conceito de vacinação, envolvendo seu funcionamento e sua importância, sempre foi confuso para muitos segmentos da sociedade, sendo que contestações sobre sua efetividade e segurança ocorrem desde as primeiras campanhas da vacinação, fator que é ainda mais impulsionado em um mundo marcado pelo constante bombardeamento de informações, muitas vezes falsas e, ainda é responsável por atrasar a importante difusão da vacinação.
Dentro desse contexto, pode-se citar que a primeira grande campanha de vacinação do país, em 1904, foi marcada por controvérsias que resultaram em conflitos. Esse episódio, conhecido como “Revolta da Vacina”, foi um motim que ocorreu em virtude da insatisfação da população do Rio de Janeiro com a vacinação contra varíola, implantada por Oswaldo Cruz. A população se revoltou por temer o risco de ter sua privacidade violada e seus direitos tolhidos, fatores que, somados ao insuficiente diálogo com os indivíduos, contribuiu para que a imunização não avançasse de forma satisfatória. (AGÊNCIA FIOCRUZ DE NOTÍCIAS,2005). Apesar desse episódio demonstrar os obstáculos históricos impostos a esse ato, é preciso entender que o contexto dessa época era marcado por exclusão da população carente, fator que contrasta com o cenário atual, no qual a vacinação é boicotada por grupos que possuem amplo acesso ao conhecimento.
Diante disso, é perceptível que tal questão persiste nos dias atuais, fator que se tornou ainda mais visível durante a pandemia Covid-19. Abordando essa problemática no contexto brasileiro, e entendendo que o governo nacional não se mobilizou de maneira eficiente para garantir as doses que salvariam os brasileiros, vê-se que o comportamento negacionista ainda constitui um obstáculo à imunização integral. Nesse sentido, percebe- se que apesar de a vacinação ser mundialmente reconhecida por autoridades sanitárias e pela comunidade médica como uma importante intervenção preventiva com impacto na redução da mortalidade de doenças imunopreveníveis, a disseminação de hesitação e resistência às vacinas tem se tornado uma questão relevante para a saúde pública e coletiva em vários países. (IRIART,1985)
Além disso, sabendo-se que para entender a saúde coletiva é necessário levar em conta todas as individualidades envolvidas em uma sociedade, é preciso considerar as relações contemporâneas, sendo essas caracterizadas pelo recorrente individualismo e pela demanda por liberdade de escolha, fatores potencializados pelos excessos dessa sociedade. Assim, esses fatores são problemáticos, pois fazem com que a saúde seja pensada como uma responsabilidade individual, inibindo a importância da saúde coletiva. Por fim, é possível relacionar a questão do negacionismo ao mito da caverna de Platão pois, à medida que as notícias falsas que diminuem a credibilidade dos imunizantes impedem a adesão à campanha de vacinação, elas impedem a melhoria na qualidade de vida dos indivíduos que estão sendo ludibriados. Diante disso, em paralelo com o mito supracitado, é preciso orientar a população acerca da importância de conferir a veracidade das informações que recebem, sejam elas pautadas no senso comum ou propagadas por meios científicos, a fim de dirimir as trevas da ignorância causadas pelo negacionismo e fazer com que o Brasil volte a ser destaque no que se refere à imunização.
[Carlos Henrique Campos de Almeida; Gregory Aquino Alves e Pablo Samuel Rodrigues Soares. Estudantes de Medicina da UFSJ. Trabalho desenvolvido na disciplina de Ciência, Metodologia e Pesquisa social. Verbetes da Pandemia, NESC-UFSJ, 2021].
Sugestões de leitura
Agência Fiocruz de Notícias (org.). A Revolta da Vacina. 2005. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2. Acesso em: 05 nov. 2021.
AGÊNCIA FIOCRUZ DE NOTÍCIAS (org.). Vacinas: as origens, a importância e os novos debates sobre seu uso. 2016. Disponível em:https://www.bio.fiocruz.br/ index.php/br/noticias/1263-vacinas-as-origens-a-importancia-e-os-novos-debates- sobre-seuuso?showall=1&limitstart=. Acesso em: 05 nov. 2021.
AZEVEDO, Leonardo. Covid-19: Fiocruz inicia vacinação de trabalhadores. 2021. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/covid-19-fiocruz-inicia-vacinacao-de- trabalhadores. Acesso em: 05 nov. 2021.
IRIART, Jorge Alberto Bernstein. Autonomia individual vs. proteção coletiva: a não- vacinação infantil entre camadas de maior renda/escolaridade como desafio para a saúde pública. Cadernos de Saúde Pública, [S.L.], v. 33, n. 2, p. 01-03, 2017.
PFIZER (org.). SAIBA TUDO SOBRE VACINAS. Disponível em: https://www.pfizer. com.br/sua-saude/vacinacao/tudo-sobre-vacinas. Acesso em: 05 nov. 2021.
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