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Nesc

10. Reflexão sobre o excesso


INSTALAÇÃO “SEMENTES DA SERRA”

Em exibição no Solar da Baronesa, na exposição Confidências da Terra, de Zandra Miranda.


Cerâmica de baixo temperatura, queima em Raku e fogueira.

Foto de Ricardo Coelho

2020


De uns tempos pra cá, principalmente no mundo acadêmico, temos lidado com o excesso de informações, produções e afins... O medo da repetição, quiçá da não originalidade. Lembro de ler na história das produções científicas aqueles casos “extraordinários” em que dois cientistas separados por países e pela inexistência de meios de comunicação desenvolviam uma mesma ideia, ao mesmo tempo. Bom, com a possibilidade de fazer infindáveis revisões sistemáticas de literatura em bancos de dados igualmente infindáveis nos dias tecnológicos de hoje, tal coincidência parece improvável. Mas outras fronteiras se ergueram entre as pessoas que produzem: o excesso. O vazio na linha de comunicação que antes impedia a conversa entre cientistas por vezes parece ter se transformado num emaranhado de artigos, publicações, apresentações, vídeoaulas, cartilhas, webconferências... E na urgência dá pra ver que isso tudo fica pior. O momento de pandemia que pede pra ontem informação e publicação tem me feito pensar sobre isso. Estamos sendo obrigados a aprender a limitar o excesso na marra. Mas o que isso quer dizer exatamente? Longe de me pretender dona da verdade de uma única versão, tenho refletido sobre o papel da ciência. Inventar algo original mundialmente revolucionário? Conseguir ler tudo que já foi produzido e dar um grande passo além daquilo? (Impossível nesses últimos tempos, eu acho). É claro que continua sendo importante conhecer – ou melhor, devorar – o mundo do conhecimento. Conhecimento é algo coletivo, óbvio. Mas aprender a limitar os excessos me parece algo genial, necessário há algum tempo e que se mostrou urgente nesse mundo pandêmico. E limitar os excessos não significa arbitrariedade, significa conseguir se ater ao que é mais importante – um desafio, é verdade. Quais sementes se está lançando ao solo com aquilo que foi produzido? E que solo é esse? Acho que estamos percebendo que antes de olhar pro mundo todo através da tela do computador ou do celular, precisamos olhar ao nosso redor, ver a nossa rua, como funcionam nossos supermercados... Porque sabe o que tem de mais original? O chão onde nossos pés pisam e o céu que está em cima de nossas cabeças. E reconhecer isso tem a ver com as referências que buscamos também, porque às vezes não é preciso juntar tudo que foi produzido no mundo numa sacola antes de começar a encher nossa própria mochila. Talvez o excesso, mais do que a lacuna, nos faça perceber que o conhecimento situado pode, quem sabe, ser mais importante do que a teoria da evolução das espécies.


[Ana Luíza Morais. Estudante de psicologia. UFSJ/PET Saúde. maio de 2020].

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