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Nesc

11. A casa pequena


Fotografia de Nataniel Kaoru, acadêmico da UFSJ. Mais fotografias podem ser encontradas em seu instagram @natakaoru.jpeg.


Ultimamente percebo que não estou cabendo mais na minha própria casa. Ela está ficando pequena demais para os meus sentimentos, minhas angústias e aflições diárias que insistem constantemente em procurar um espaço maior para se desprenderem do meu próprio corpo e se libertarem... sem qualquer hesitação na despedida. Engraçado. Eu que sempre considerei a minha casa como espaço de liberdade, tem-se tornado, ultimamente, uma espécie de prisão pra mim. Antes, ao abrir os portões já ia logo tirando os sapatos e jogando-os do outro lado da sala, possibilitando que meus pés tocassem o chão após um longo dia de batalha em se conformarem à pressão dos calçados. Jogava o meu corpo na cama e ficava minutos, se não até horas, olhando para o mesmo canto do teto sem pensar em absolutamente nada. Ah, que sensação! Lembro de como sempre me entusiasmava na arrumação da casa, no tempo despendido em calcular milimetricamente as disposições dos móveis nos cômodos e nas harmonizações possíveis dos tons de cores nas paredes. Essa casa que tanto me protege nesse momento, me assegurando de um perigo do não conhecido que encontra-se perambulando nos cantinhos e esconderijos desse mundo afora, tem também se tornado um verdadeiro confinamento. O local em que conseguia conectar com o mais íntimo do meu ser, em que sentia que poderia ser eu mesma fora das máscaras sociais que colocamos para enfrentar o mundo, escancara que viver só não basta. O olhar para a tela de um computador cansa, sentar boa parte do dia numa mesma posição faz doer a coluna e conversar com os objetos já está se tornando demasiadamente ridículo. Que saudades de esbarrar sem querer, não mais nos copos que deixo ao lado da cama para beber a noite, mas nas subjetividades que circulavam nas ruas ou naquelas que se encontravam nas filas da padaria para construir brevemente uma relação sem pé nem cabeça que não duraria nem mais que 5 minutos até a ida ao caixa e meias palavras sobre o aumento no preço do pão. Talvez era disso que eu falava quando pensei sobre a criação de um lar. É, somos realmente insuficientes. E as nossas propriedades privadas, edificada e esquadrinhada sobre terras comunitárias de outrora, também são.


[Daniela Marras, estudante de Psicologia, 17 de junho de 2020].


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