PINTURA DO TRÍPTICO “BETAS”
Em exibição no Solar da Baronesa, na exposição Confidências da Terra, de Zandra Miranda.
Pintura executada com pigmentos de terra, carvão e folha de ouro.
Foto de Ricardo Coelho
2020
Engraçado como a quarentena me faz pensar e refletir sobre coisas tão cotidianas que eu nunca havia refletido antes. Sutiã. Coisa que as mulheres usam e que eu fui obrigada a usar desde que entendi que eu estava crescendo. Acho lindo as mulheres que conseguiram se libertar das amarras desse objeto que eu nunca entendi de verdade sua finalidade e aí elas saem por aí, livres, no dia a dia, sem se importar com os olhares daqueles que acham o sutiã algo extremamente importante e que é quase uma ofensa o não uso dele em certas situações. Mas eu não consigo ainda me sentir confortável em sair de casa sem sutiã - e aí é que veio a reflexão. No cotidiano sem quarentena era libertador pra mim, chegar em casa, tirar o sutiã, me deitar na cama e sentir a liberdade que os homens têm de respirar sem algo apertando o peito - era aliviante. Mas aí veio a quarentena e o sutiã deixou de ser item obrigatório do meu dia a dia, no começo foi maravilhoso - passar dias e dias deixando a camiseta solta e vivendo com o pijama no conforto de casa durante 24h - só tirando na hora do banho e trocando por outro tão confortável quanto. Só que então, depois desse período inicial senti uma falta estranha do sutiã, do tênis e da calça jeans. Não sei se foi falta deles ou do alívio que eu tinha quando tirava tudo isso e colocava o pijama depois de chegar em casa. Mas fez falta. De repente me peguei vestindo sutiã pra ficar em casa, quase que como uma busca incessante pela normalidade. Engraçado isso de querer as coisas que antes a gente não queria. Domingo coloquei calça jeans pra almoçar - na mesma casa e com as mesmas pessoas que almoçam comigo todo dia - mas eu precisava do jeans e do sutiã. É, parece que o que eu sinto falta é dos apertos que essas coisas me davam antes, acho que a saudade do sutiã é porque o aperto no peito passava quando eu tirava ele. Agora, o aperto é diferente, não alivia fácil não. Coisa doida essa. Tomara que eu volte logo a usar sutiã todo dia só pra poder respirar aliviada quando tirar ele, sem sentir o aperto que dói agora (mesmo sem ele). Contradições. Deve ser coisa de quarentena.
[Beatriz Gomes. Estudante de medicina. UFSJ/PET Saúde - 26 de junho de 2020]
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