top of page
Nesc

17. O tic-tac da vida


Fotografia de Nataniel Kaoru, acadêmico da UFSJ. Mais fotografias podem ser encontradas em seu instagram @natakaoru.jpeg.


Tic-tac... tic-tac...


O som das setas do relógio pendurado no alto da parede da cozinha tornou-se quase ensurdecedor. A pandemia me fez parar para analisar a relação do humano com o tempo. O mundo pós-moderno (ou não tão pós e nem moderno assim) exige pressa, rapidez, produtividade incessante. Quantas vezes não éramos atropelados por tantos afazeres, numa tentativa de ocupar o máximo das 24 horas do dia para que no final, percebêssemos que ainda assim era pouco. Internalizamos psiquicamente a máxima capitalista “tempo é dinheiro” mesmo quando não estamos querendo nos referir exatamente ao capital. A estrutura da frase perpetua. O tempo virou uma valiosa moeda de troca. Em pleno corre-corre diário, ironicamente, um vírus nos obrigada a parar nem que por pelo menos alguns instantes... É, não durou muito. Voltamos a atropelar o tempo em prol do capital e com ele atropelam-se vidas. Olho para o relógio que insiste em permanecer contando cada segundo do dia. Após alguns minutos parada, fixada nas voltas do ponteiro, penso nos corações que estão desacelerando... pouco a pouco sua batida. Esquecemos que esse órgão tão essencial ao corpo humano também tem seu próprio marcador. Talvez fosse mais interessante escutar esse ritmo sonoro. O tempo interno da vida pulsante em vez da quantificação e acúmulos. Pisquei algumas vezes e tirei os olhos do relógio. Não fazia mais sentido.


[Daniela Marras, estudante de Psicologia, 24 de junho de 2020].

52 visualizações

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page