"O melhor dos mundos", de Fernando Campos Maia. Mais obras do artista podem ser encontradas no Facebook: Atelier Virtual - Fernando Campos Maia ou no Instagram: @fernandocamposmaia".
Conto doze vezes doze, enquanto canto a mim mesma andando pelos cantos de um canto ao outro da casa, ouço vozes, apelos e bem-te-vis. Escolhi que o bem querer-me ia, por isso optei por Zeca Baleiro, Belchior e Majur.
Morri no ano passado, mas esse ano, ainda não, quero transformar-me, colorir as paredes do coração de alguém, viver a divina comédia humana e fazer de minha falsa eternidade um sopro de amor nos ouvidos alheios.
Descobri que era inconstante, como meus papéis que espalho pela casa e as inspirações que se perdem porque esqueci a toalha. Descobri que é difícil carregar o mundo do outro e seu coração, mas por sorte sempre tive Drummond me acompanhando nas noites.
Talvez, ele tenha sido meu ouvinte durante todo esse tempo. Engraçado como Drummond me ouve, mas não me julga, talvez seria insanidade, mas eu acho que ele me ama, certa vez me disseram que quando se ama é comum também ser amado… não há provas científicas e concretas a respeito, mas afinal, quem sou eu pra desmentir os poetas, para alguns o caminho da ciência é pouco, precisa-se do afeto.
Irão existir dias em que o retrato será mais fosco, talvez lhe falte um amor ou um prato de comida, mas enquanto existir vida e voz, há espaço pra justiça.
Às vezes tenho medo de gritar, acho que tem voz que é abafada pelo capitalismo, por uns tiros ou por um vírus, não sei… talvez não seja certo culpar um ser que quando criança duvidava se era vivo ou não e até hoje não sei.
Mas de homem, ah eu conheço muito de frente e do avesso… afirmo com segurança que suas mãos cheiram a sangue, aparentemente leve e fluído, podre no fim das contas, somos e nos tornamos.
Tenho medo do futuro, tenho medo do medo e das destruições nas favelas, temo que um dia os poetas sejam calados e a vida se transforme num autômato que caminha ao fim do afeto.
Mas talvez, se Drummond estivesse aqui, ele me puxaria às orelhas, talvez os poetas não apreciem o pessimismo; necessário seria manter a esperança, como Clarice, contanto que não seja leve e não necessariamente signifique paz, mas que seja grande o suficiente para caber nos braços de um menino.
[Natália Vitória dos Santos, graduanda em Psicologia e poeta. 20/05/2020]
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