Fotografia de Nataniel Kaoru, acadêmico da UFSJ. Mais fotografias podem ser encontradas em seu instagram @natakaoru.jpeg.
Chego perto à janela do quarto, ouço um som, um som que vem crescendo, uma sirene, será? Ruído penetrante, atravessa meus ouvidos como uma lâmina cortante. Nesse momento, fico à mercê, seria a ansiedade? Talvez, nesses tempos ela está sendo meu par, andando de mãos atadas comigo sobre a areia de uma praia cinza. Ânsia pela morte, ânsia pelo fim, ânsia por um novo começo.
O som, mais intenso, toma conta da rua. Não me pasmo com a bisbilhotice dos vizinhos, ninguém aparece, não há mais curiosos, o barulho já não é mais uma surpresa. Tão comum, que agora nem conto as vezes em que o ouvi. Antes, acreditava que esse ruído restringia aos grandes centros, atormentando os motoristas, trocando os sons das buzinas e da movimentação humana. Tenho ânsia a volta desses tempos, o caminhar dos pedestres, o barulho dos carros, o falatório, a cantoria, as luzes das lojas. Nada está igual, nem mesmo os sons.
Percebo, enquanto o ruído se distancia, deixando a rua silenciosa outra vez, que estamos todos quietos, não há o que fazer, a vida está restrita, mas restrita a que? Será que minha vida está realmente parada? Será que realmente estou pronto para essas mudanças? Têm dias que não durmo e têm dias que faço ligações. Têm dias que escuto música popular e têm dias que faço crochê. Têm até dias que estou calmo. E têm dias que vou à janela, e quando são esses dias, percebo que me distraio, me distraio com o som que antes me incomodava em uma rotina que agora me abstraio.
[Luciano Augusto, acadêmico da UFSJ, 20/07/2020]
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