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Nesc

22. 2020


"Chá das duas", de Fernando Campos Maia. Mais obras do artista podem ser encontradas no Facebook: Atelier Virtual - Fernando Campos Maia ou no Instagram: @fernandocamposmaia".


E mais uma vez me corrói como um veneno. Sinto o amargo fel da ansiedade embrulhando meu estômago e acelerando meu miocárdio. Disseram-me que seria um ano de purificações, só não me disseram que seria tão inclemente e feroz. Não disseram-me que teria tantos cadáveres e tanto medo. Nisso, me recluso ao meu lar que cada vez mais me enche de tédio. Me sinto uma morta-viva, desaproveitando todas minhas capacidades, enchendo minha cabeça de enxurro inútil e me negando a tentar fazer qualquer coisa proveitosa para meu encéfalo cada vez mais frívolo. Talvez usar a desculpa de que eu não consigo fazer algo útil não seja mais uma alternativa válida, porque talvez eu simplesmente não quero, porque estou cheia de preguiça e indiferença. Assim, acabo me enchendo de frustrações que não chegarão a lugar algum. Olho para o céu e vejo que vamos cada dia nos destruir mais e que a Terra continuará girando, que o Sol continuará esquentando e que o universo vai continuar existindo. Toda ação gera uma consequência, e nossos atos como seres humanos provocam fúrias inimagináveis nisso que chamamos de natureza. Se hoje possuímos um vírus que está acometendo milhões de pessoas, foi porque nós não respeitamos nosso planeta. E por mais que tudo isso passe, sempre haverá uma resposta do universo à nossas atitudes destrutivas. Eu sinceramente acho que não existem esperanças para nossa espécie. Fomos moldados evolutivamente na base da conquista e dominância, na base da injustiça, na base da opressão. Espero realmente estar errada, já que o pessimismo realmente não transforma ou melhora alguma coisa, mas em tempos como este é muito difícil ser otimista.


Deste modo, me mantenho distante até de mim mesma. Sinto como se o amanhã fosse um eterno hoje, como se eu estivesse em uma repetição eterna de prostração, inércia e desânimo. Reprimo todos os meus desejos físicos e mentais, lido com a saudade, alimento meus vícios e vejo mais um dia se acabar sabendo que amanhã será a mesma coisa e nada, por agora, melhorará.


[Kessia Almeida, estudante de Ciências Biológicas na UFG. 27 de Maio de 2020]

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