"Avó, neto e uma viagem interestelar", de Fernando Campos Maia. Mais obras do artista podem ser encontradas no Facebook: Atelier Virtual - Fernando Campos Maia ou no Instagram: @fernandocamposmaia".
Tenho escrito sobre a minha quarentena semanalmente. Escrevo sobre os meus sentimentos que emergiram do caos, deixo fluir livremente. Os primeiros textos foram mais amorosos e poéticos, depois, conforme as semanas iam passando, as poesias ficaram mais amargas, com alguns pedaços que pareciam mais crônicas políticas com ironias. Algumas também expressaram alguma melancolia, e as últimas claramente mostraram minha rebeldia sem muita fantasia. Eu não me censuro, escrever virou minha terapia. Pois bem, esta semana decidi escrever sobre minhas proezas domésticas durante os mais de 40 dias da quarentena, parece mais uma comédia, mas não são nada poéticas. Certamente este texto não será uma poesia, nem sei em qual gênero podemos classificar estas palavras escalafobéticas, porém com fonética. Veja bem, esta nem é a ideia, só quero desabafar. Eu nunca fui boa em serviços do lar, mas até gosto de cozinhar. Agora, com relação a todo o resto, eu vi que não presto. Já comecei a listar os estragos que fiz, agora vou lhes contar: manchei uma camisola com água sanitária; derreti o forro do colchão impermeável na secadora; e de tanto passar álcool em gel, estraguei o som do celular. Já são 3 prejuízos a contar. Isso porque ainda não me atrevi a roupa passar. Estou indo trabalhar meio assim amassada, na fé que com esta situação ninguém repare em uma moça amarrotada. Tanta coisa pra nos preocupar, não é possível que vão notar. Fico imaginando o que mais vou aprontar, se este isolamento por mais meses perdurar. E o pior, quando fui compartilhar este desastre com minhas amigas, uma disse que está cozinhando bem, mas sem querer deixou o pano de prato queimar. A outra conseguiu um omelete estragar. A terceira, mãe de 2 meninos, falou que na primeira semana decidiu parar de contabilizar. É rir pra não chorar. O fato é que nem todas estão preparadas pra desempenhar essa função, ainda mais no meio de tanta tensão. Estamos nos virando como dá, mão na massa, autoinstrução, receitas Rita Lobo e um pouco de oração. Meu desempenho neste quesito ainda está uma decepção, mas ao menos comecei a cozinhar arroz, lentilha e feijão. A verdade é que estou curiosa para saber, e vocês? Quais as suas proezas domésticas nesta quarentena? Podem me contar? Eu vou tentar melhorar e no fim do isolamento volto a registrar. E me desculpem este texto meio sem cabimento, era só para rir, que é um remédio para nos distrair, já que estamos em isolamento e não temos para onde ir. E, daqui a pouco, taco no fogo no apartamento.
[Jamyle Calencio Grigoletto, servidora pública federal do Ministério da Saúde, Brasília/DF, 01 de maio de 2020.]
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