Fotografia de Nataniel Kaoru, acadêmico da UFSJ. Mais fotografias podem ser encontradas em seu instagram @natakaoru.jpeg.
Manhã, 11 de agosto, um gole de café, livro terminado.
Clarice dizia que a vida é um soco no estômago, mas queria a vida.
Abrir página no navegador. Memorial Inumeráveis.
“Abigail Pinto Magalhães, 88 anos
Viciada em novela, interagia com a trama: ‘Ih, já sei no que isso vai dar!’”
“Elvira Martucci Alves, 84 anos
Seu sorriso fácil combinava com o aroma dos bolinhos de açúcar e canela que preparava, recheados de carinho.”
“Iramária Ramos Ataide, 72 anos
Vó Ira era dona de uma casa com um detalhe peculiar: estava sempre de portão aberto e de mesa cheia.”
“Odácio Bastos, 56 anos
Hoje o povo Ticuna chora uma lágrima só. | Nhuma i ticunagü arü duūgü rü wüi i autaã nüna yema.”
“Úrsula Emília Ramos Campos, 46 anos
Dona de um sorriso inesquecível, que fez da profissão, a missão de cuidar. Fará muita falta.”
Só as vogais já amargaram a boca. A barra de rolagem ta aumentando. Cem mil e contando.
Morte que termina vida, especialmente essa vida menos viva, soco no estômago.
Gosto na boca de fel banalizado.
Tenho medo de deixar esquecer.
[Núbia Vale Rodrigues. Estudante de Psicologia da UFSJ. 11 de agosto de 2020]
Comments