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Nesc

31. Inumeráveis


Fotografia de Nataniel Kaoru, acadêmico da UFSJ. Mais fotografias podem ser encontradas em seu instagram @natakaoru.jpeg.



Manhã, 11 de agosto, um gole de café, livro terminado.

Clarice dizia que a vida é um soco no estômago, mas queria a vida.

Abrir página no navegador. Memorial Inumeráveis.

“Abigail Pinto Magalhães, 88 anos

Viciada em novela, interagia com a trama: ‘Ih, já sei no que isso vai dar!’”

“Elvira Martucci Alves, 84 anos

Seu sorriso fácil combinava com o aroma dos bolinhos de açúcar e canela que preparava, recheados de carinho.”

“Iramária Ramos Ataide, 72 anos

Vó Ira era dona de uma casa com um detalhe peculiar: estava sempre de portão aberto e de mesa cheia.”

“Odácio Bastos, 56 anos

Hoje o povo Ticuna chora uma lágrima só. | Nhuma i ticunagü arü duūgü rü wüi i autaã nüna yema.”

“Úrsula Emília Ramos Campos, 46 anos

Dona de um sorriso inesquecível, que fez da profissão, a missão de cuidar. Fará muita falta.”

Só as vogais já amargaram a boca. A barra de rolagem ta aumentando. Cem mil e contando.

Morte que termina vida, especialmente essa vida menos viva, soco no estômago.

Gosto na boca de fel banalizado.

Tenho medo de deixar esquecer.

[Núbia Vale Rodrigues. Estudante de Psicologia da UFSJ. 11 de agosto de 2020]

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