Fotografia de Richard Neves, músico em Tiradentes, MG.
Voltei para São João del-Rei com o objetivo de pegar algumas coisas que deixei para trás. No caminho até a chegada de casa me assustei com a quantidade de pessoas nas ruas. Minha mãe sempre foi apaixonada pela cidade de Tiradentes e decidimos ir até lá de carro, sem sair do veículo. Achei que tudo bem. Ao chegarmos na cidade, novamente me assusto com a quantidade de pessoas nas ruas, sem máscaras, tirando foto e “turistando” como se nunca tivessem ouvido falar de vírus algum. Aquilo me deixou bem chateada. Meu pai, ao ver a cena, comenta “é, as pessoas não estão aguentando mais”. Me indaguei com a colocação dele. Acredito que existem diferenças que precisam ser muito bem colocadas quando falamos das pessoas que estão nas ruas. Bem, primeiro existe uma grande parcela da população brasileira que, infelizmente, precisa se arriscar e trabalhar para sustentar sua vida e de seus familiares. Uma outra parcela,
acredito que podem estar trabalhando em casa por meio de home office (termo do inglês que importamos para mascarar as dores nas costas e as olheiras por falta de sono e acúmulo de cansaço) e que, depois de 5 meses em frente a computador, celulares, tablet, noticiários podem querer começar a dar umas voltas nas ruas da cidade para tentar liberar esse excesso. Acredito que existem mulheres que, por terem de exercer a função materna, o trabalho e o cuidado com a casa, sem o apoio do marido, em muitos casos, clamam por uma ida à casa de alguma amiga para se sentir consolada. Ou a relação tensa e conflituosa que pode emergir entre pais e filhos adolescentes, exacerbando as divergências geracionais, tornando-se mais desgastante que a própria pandemia em si. Aposto que muitos sonham em sair rumo a fora para ter um pouco de paz. Seja pela hiperconvivência, pelo acúmulo de trabalho ou por conta da solidão. Mas será que sair de casa sem tomar as medidas necessárias como uso de máscara, distanciamento social e
lavar as mãos com sabão ou uso de álcool em gel de forma frequente é não aguentar mais a quarentena ou é ser negligente com o momento crítico que estamos vivendo? Acredito que a segunda opção caia bem. Sim, concordo que 5 meses é demasiadamente exaustivo para quem seguiu à risca o isolamento social, mas também não acho que sair de casa sem as recomendações básicas é aceitável. Poxa, ainda estamos em pandemia e o número de mortes diárias é altíssimo e os riscos também. Nesse sentido, continuo a crer que a responsabilidade, tanto conosco quanto com os outros, ainda tem que ser a linha de frente de nossas práticas para os próximos meses.
[Daniela Marras, aluna do curso de Psicologia da UFSJ, 16 de agosto de 2020]
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