Fotografia de Nataniel Kaoru, acadêmico da UFSJ. Mais fotografias podem ser encontradas em seu instagram @natakaoru.jpeg.
Até uns dias atrás, boa parte do meu dia era destinado às notícias sobre o governo e sobre às vítimas do covid-19. A ânsia por informações não me possibilitou sair muito das telas do celular, contudo, fiz uma troca. Comecei a procurar mais informações sobre o andamento das vacinas. Acordo pela manhã e a primeira coisa que procuro saber é como estão as etapas das vacinas que estão em curso no mundo. Pode ser uma maneira de tentar me agarrar a uma certa garantia de que haverá, em algum momento, uma solução para todo esse caos. Acho que tudo bem. Cada um faz o que pode para manter o mínimo de esperança e dar conta de enfrentar esses dias tão incertos. Fico imaginando como esses cientistas, que estão na linha de frente para a criação da vacina, devem estar nesse momento. Acredito que estão trabalhando por longas horas, fazendo mil comparações, colhendo dados e tentando ser os mais rápidos que podem. É engraçado pensar que, no Brasil, estávamos (ou talvez ainda estamos) passando por uma enorme onda de movimento antivacina e a única salvação mundial para acabar com a pandemia é exatamente o antídoto tão combatido por muitos habitantes de nosso país. De toda forma, não me iludo. Quando o diretor-geral da OMS disse que “não existe bala de prata no momento e talvez nunca exista”, referindo às vacinas, não assustei. Vi que a fala dele foi recebida muito mal pela mídia, mas não vi por esse lado. Claro que estamos todos nos sentindo meio à deriva e, como disse, o que mais almejamos no momento é alguma mínima certeza em que nos apoiar. Contudo, ainda não tem vacina e, talvez possa demorar para termos, ou talvez, realmente, nunca a teremos. Para mim, a fala do presidente-geral, ironicamente, me fez pôr os pés no chão e perceber que, sim, a ciência é extremamente importante juntamente com os avanços tecnológicos e é necessário acreditar nela e na sua eficiência, mas talvez o que podemos fazer agora é tentar viver da melhor maneira possível em tempos de incerteza e buscar construir pequenas seguranças diárias. E esse: “melhor maneira possível” não é sem danos e sem tristezas, obviamente, mas, talvez o que está ao alcance de cada um sobre sua vida e o não saber sobre o futuro. Que no fundo, nós nunca soubemos.
[Diário produzido por Daniela Marras Dias de Souza. Estudante de psicologia da UFSJ. Integrante do OBESC e participante do núcleo de estudos NEGAH. Escrito em 10 de agosto de 2020]
Como citar: SOUZA, Daniela. Vacinas, publicado em 18 de setembro de 2020. Disponível em: https://saudecoletivasjdr.wixsite.com/meusite/post/36-vacinas.
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