Fotografia de Marcos Ribeiro Mesquita
Hoje o dia começou cedo. Às oito para uma reunião. Às seis e meia para o banho, o café, a ração para as cachorras e a água para as plantas. Com tranquilidade. Uma das questões que tenho reaprendido com a quarentena é dispor o tempo necessário para cada coisa. O ritual de todas as manhãs que sempre foi secundarizado pela pressa-para-não-pegar-o-trânsito-na-ida-ao-trabalho, ganhou vida, gesto, movimento, passo... ganhou canção! Voltei a cantar no início das manhãs.
Na vida que segue, um dia de trabalho comum: reuniões, orientações, escritas de um projeto, leitura de um texto para debate em grupo. No meio, a feitura do almoço.
Na vida que segue, um dia de casa comum: o cortar das verduras, o temperar da carne, o lavar dos pratos, o limpar do chão. No meio, a feitura do trabalho.
E no fim do dia que começou cedo, de mais um casa-trabalho-casa-traba-ca-lho-sa-tra-lho, assim mesmo, sem nexo ou distanciamento, a escrita pediu licença e se libertou, a palavra tomou um rumo, querendo sair de casa. Queria ver outros cantos, conhecer outros climas, vaguear sem destino. E depois de muito insistir, se fez passarinho. E se a pandemia já me fez acreditar que não tinha nada ou motivo para escrever, hoje ela me deu uma pausa, e a escrita criou asa, por não poder se conter. Voltei a escrever no final das noites.
[Diário produzido por Marcos Ribeiro Mesquita. Professor da UFAL. Escrito em 14 de Setembro de 2020]
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