Fotografia de Nataniel Kaoru, acadêmico da UFSJ. Mais fotografias podem ser encontradas em seu instagram @natakaoru.jpeg.
Nascemos desamparados. Pois é, os próprios humanos que se acham tão grandiosos perante os outros animais, são os únicos que precisam do cuidado de um outro de sua espécie para conseguir sobreviver. Não seríamos nada sem a presença de alguém que estendessem os braços para nos acolher e abrir um lugar no seu mundo. Precisamos do outro para sabermos que existe um tu e, portanto, um eu, para que nos habilitemos à linguagem, para conseguirmos sustentar o nosso próprio corpo em uma posição vertical. Aprendemos constantemente por exemplos dos nossos pais, professores, amigos. Nós admiramos livros que foram escritos por seres como nós. Ouvimos músicas compostas também por nossos semelhantes. Somos, portanto, uma espécie de mosaico confeccionado por pequenos pedacinhos de muitos outros, que vão, ao longo do tempo, construindo os diferentes sujeitos. Cada mosaico tem seus próprios rearranjos e são eles o que nos tornam únicos. Contudo, parece que nós humanos temos memória curta. A base da nossa existência foi o cuidado e continua sendo. É exatamente por essa manifestação de ternura que estamos aqui hoje. O cuidado nos gestou e nos marcou a tal ponto de fazer com que nos sustentemos diariamente no mundo. Vivemos dia após dia a partir desse primeiro cuidado e de tantos outros que recebemos. O cuidado, portanto, não pode se encerrar no momento em que avançarmos esses primeiros passos que nos constituem como humanos. Nós permanecemos desamparados por toda a vida. Podemos cair, machucar, sentir fome. Somos sedentos dele, porque não somos máquinas autossuficientes. Somos incompletos e isso nos torna sociais. O cuidado deve ser contínuo para a manutenção da espécie humana. É necessário preservá-lo.
[Diário produzido por Daniela Marras Dias de Souza. Estudante de psicologia da UFSJ. Integrante do OBESC e participante do núcleo de estudos NEGAH. Escrito em 7 de julho de 2020]
Como citar: SOUZA, Daniela. A base humana, publicado em 27 de outubro de 2020. Disponível em: https://saudecoletiva.ufsj.edu.br/
