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  • Nesc

45. Detalhes


Fogo fátuo, fotografia de Richard Neves, 2021.


Acordei. O mundo pode ter mudado, o relógio dado uma volta e o sol adormecido, porém, no meu quarto, as coisas permanecem as mesmas. Uma rotina baseada em: acordar, sentar em frente a tela, teclar, levantar e deitar na cama. Quarto. Faculdade. Cinema. Festa. Escritório. Descanso. Cansaço. Em alguns horários, dou um passeio. Banheiro. Cozinha. Sala de estar. Coloco minha melhor roupa. Faço algumas visitas. Meus vizinhos. Minha mãe mora na cozinha. Meu irmão no quarto ao lado, primeira porta à esquerda. Meu pai na sala. Minha casa se tornou um quarteirão. Cada cômodo é uma moradia. Cada cômodo se tornou um lar. Meu lar é meu quarto. Segunda fiz algo inusitado, deixei a cadeira e a mesa de lado, e assisti aula em outro quadrado. Ontem descobri um outro ambiente. A varanda também posso chamar de lar, até o sol ficar mais quente. Hoje, o dia foi o mesmo. Levantei da cama morna. Dobrei quem me aquecia. E estendi a cama com a mesma colcha de ontem. O link chegou. Percebi que atrasei para levantar. Ligo correndo o computador e de fininho entro na chamada. Câmera e microfone desligados. Que função incrível. Pelo menos assim, ninguém me vê desarrumada. Termino a arrumação do quarto. Ajeito os lápis e canetas no pote. Prendo o cabelo meio sujo. E sento na cadeira. Tem dias que ela está mais dura, então para aliviar a dor nas costas, acrescento uma almofadinha. Nossa, e o café? Esqueci de comer algo. Se bem que já nem me assusto mais. Esquecer essas coisas já se tornou frequente. Hoje não animei a buscar nada. Se bem que já preciso almoçar. Barriga cheia. Arroz e feijão são sempre bem vindos. Vou correndo para o computador, novamente, agora é a aula daquele professor que me deixa ansiosa. Ufa. A aula acabou. Acho que entendi tudo. Agora é só fazer as leituras, resolver as atividades e assistir os vídeos assíncronos. Mas, já são 18 horas! Preciso preparar um café. Meus vizinhos chegaram em casa. Vou fazer algumas visitas hoje. Se bem que essa foi a melhor hora do dia. Preciso fazê-las mais vezes. Cansei. Preciso dormir. Amanhã não posso me atrasar. Deito na cama. E observando os lápis e canetas esparramados pela mesa do computador, pego no sono outra vez.


Juliana Gabriela Vieira Passos, 19 anos. Estudante de Psicologia na Universidade Federal de São João del -Rei (UFSJ) São João del-Rei, 22 de fevereiro de 2021.

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