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Nesc

A responsabilidade pela saúde do outro

Linha sobre tela, de Maria Clara Mendes, acadêmica da UFSJ. Mais trabalhos podem ser encontrados em seu ateliê virtual: @piquiborda.


Me chamo Elisa Pereira e trabalho como assistente social e coordenadora de um Centro de Atenção Especializada. Uma das questões que a pandemia trouxe para o meu trabalho e, que foi bem complicado no início da pandemia, é com relação à dificuldade de decidir acerca dos casos que atendemos. Onde eu trabalho não é porta de entrada para os atendimentos daqueles com suspeita de COVID-19. São atendimentos especializados com profissionais de saúde diversos: médicos, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista... Contudo, com a pandemia e o isolamento social, tivemos que rearranjar muito a dinâmica funcional com os trabalhadores, pois as consultas também precisavam ter as devidas medidas de prevenção. Apesar da orientação do Estado acerca das recomendações sobre os atendimentos no momento da pandemia, quando se depara com a realidade, é outra questão. Então o tempo todo tivemos que definir o que é menos pior: suspender o atendimento de uma criança, um prematuro, de risco ou os pacientes da cidade vizinha. Foi muito difícil estabelecer o que era prioritário e o que poderia esperar, sabe? Na pediatra, por exemplo, com a equipe multidisciplinar, tentamos balancear acerca da menor exposição, para não correr risco de uma contaminação de COVID-19, mas ao mesmo tempo pensávamos: por quanto tempo teríamos de deixar bebês e crianças sem atendimento profissional? Porque nós não sabemos quanto tempo a pandemia vai durar e quando tudo vai se normalizar, então são decisões muito difíceis que envolve a vida e a saúde do outro. É uma grande responsabilidade para nós. E sempre ficamos com aquela sensação de desamparo, entende? Sem saber muito para qual direção seguir com segurança. Infelizmente, a Secretaria de Saúde não conseguiu dar o suporte necessário, que nós profissionais da saúde, estávamos precisando nesse momento. As decisões que tomamos são sempre baseadas nas notas técnicas que o Estado nos encaminha e conversas com a equipe com que trabalho. Enfim... cada dia é uma decisão, cada dia é uma reflexão e a gente acaba indo pra casa com aquela sensação de que alguma coisa não tá bacana. Pedimos, então, a pediatra para avaliar caso a caso, através dos prontuários e definir as prioridades de atendimento presencial e quais poderiam estar em monitoramento remoto. E assim fizemos, repassamos para a enfermeira fazer o monitoramento remoto. Solicitamos ao fisioterapeuta que fizesse contato com todas as crianças que ele tivesse acompanhando e que faria a avaliação de quais crianças deveriam marcar pessoalmente, o que ele poderia orientar a distância. A mesma coisa com a nutricionista e com a psicóloga. Seguimos com erros e acertos. Eu acompanho aqueles casos, como assistente social, que são de famílias mais complicadas. Realizei contato com os CRAS com as Secretarias de Assistência Social dos municípios para dar um amparo e vamos informando que, no momento, os atendimentos estão suspensos e a gente vai marcar assim que normalizar, ou em casos mais urgentes, agendamos o atendimento presencial. Com o tempo isso foi causando, uma maior tranquilidade na equipe, mas sempre com aquela expectativa de talvez estivéssemos errando, ainda que, estávamos agindo dentro das nossas possibilidades.


[Narrativa construída em colaboração. O diálogo entre Elisa Pereira (nome fictício) e Daniela Marras Dias de Souza é a base do texto. Elisa Pereira é assistente social e Daniela Marras Dias de Souza é estudante de Psicologia da UFSJ, integrante do OBESC e participante do núcleo de estudos NEGAH].


Como citar: PEREIRA, Elisa; SOUZA, Daniela. A responsabilidade pela saúde do outro, publicado em 16 de outubro 2020. Disponível em: https://saudecoletiva.ufsj.edu.br/


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