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  • Nesc

Ausência de memórias e lembranças da alma



Sempre fui cuidadoso quanto a pandemia. Tinha álcool em todos os locais. Além de manter o distanciamento social correto. Pela minha idade, faltava apenas uma semana para eu receber a primeira dose da vacina. Apesar de ser muito cuidadoso, acredito que me contaminei pelo meu costume de colocar a mão nos olhos, pois uso lentes de contato.


Era uma quinta-feira quando algumas dores no corpo começaram a surgir. Não suspeitei ser Covid. Acreditei que era apenas uma gripe. No entanto, como a Ju é médica, logo me disse para fazer o teste. Deu negativo. No sábado, a Ju acordou com as mesmas dores que eu. Eu sentia muitas dores nas juntas. No domingo estávamos ambos bem. No entanto, a Ju conversou com um amigo que é infectologista e ele nos disse para fazermos o teste novamente. Dessa vez o teste positivou para nós dois. Logo, a Ju marcou uma tomografia para fazermos na terça-feira.


Quando chegamos ao hospital, eu estava bem. Com poucos sintomas. A Ju estava melhor ainda. Ela já havia sido vacinada com as duas doses da Coronavac. Agora começa a parte mais interessante de toda minha história. Não sei se por nervosismo ou se por proteção espiritual, mas eu não consigo me lembrar de todo o ocorrido. Quem me contou depois foi a Ju e os médicos, quando acordei da intubação. Minha memória apagou logo após a tomografia.


A primeira memória que eu tenho é de quando o médico me falou que iria retirar o tubo. Eu não sabia que havia sido intubado. Não me lembrava. Estava me sentindo muito perdido. Eles haviam me dado Curare, substância que vem de um sapo da Amazônia e faz bloqueio muscular, com o objetivo de que o pulmão não brigue com a máquina enquanto você está intubado, então eu não conseguia segurar nem um copinho plástico quando acordei. Eu estava com sede. Disseram que não podiam me dar água. Eu não entendia. Então começaram a me contar o que havia acontecido e o que estava acontecendo. Me avisaram que não podiam me dar água pois, por conta da intubação, se eu bebesse qualquer líquido, ele poderia ir para o pulmão e gerar um quadro de pneumonia aspirativa.


Algumas coisas foram aparecendo pós minha desintubação. Uma tremedeira. Minha visão estava muito ruim também. Muita tosse e cansaço. O mais contraditório é que meu paladar parecia muito apurado, ou as coisas me pareciam muito salgadas ou muito doces.



[Narrativa construída em colaboração. O diálogo entre Antônio (nome fictício) e Adriana C. B. de Castro é a base do texto. Antônio é morador de São Paulo e tio de Adriana; Adriana é estudante de medicina da UFSJ. A narrativa também apresenta Júlia (Ju) (nome fictício), esposa Antônio. 21 de novembro de 2021].


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