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Carta para a cora


Fotografia de Nataniel Kaoru, acadêmico da UFSJ. Mais fotografias podem ser encontradas em seu instagram @natakaoru.jpeg.



Querida Cora,


Que prazer enorme em te conhecer!! Sabe que eu já havia ouvido seu nome mas não sabia nada de você! Na verdade, uma vez recebi um texto sobre bordado (sou bordadeira nas horas vagas) e falaram que havia sido escrito por você, mas depois fiquei sabendo que não. Fora isso, só conhecia seu nome que, por sinal, achei muito poético. Mas não sabia que você era a Aninha, a Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas e que agora você é árvore, é tronco. E “não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos”. Esta frase descreve você. Para mim, você está viva nas suas palavras, nos seus versos e também nas árvores e nos troncos.


Sabe, estou te escrevendo do seu futuro para o meu passado. Nasci na década de 60, quando você já tinha seus 70 e poucos anos e, hoje, estamos em 2020. Um ano bem diferente para toda a humanidade, daqui a pouco te explico. No meu tempo, a gente raramente escreve a mão ou numa máquina de escrever. Nós escrevemos num computador. É um pouco difícil de te explicar mas, enquanto muitos anos se passaram até suas palavras serem conhecidas pelo mundo, hoje as pessoas são um livro aberto (é isso mesmo!) e nossas palavras chegam à maior parte do planeta Terra em poucos segundos. É muito difícil para explicar, melhor não entrarmos em maiores detalhes.


Bem, mas estamos num ano bem complicado para toda a humanidade. Há alguns meses, todos andam pelas ruas de máscara. Moro numa cidade pequena de Minas Gerais, Ouro Preto, e a gente nem reconhece quem passa na rua do nosso lado. Sabe os vírus, aqueles seres microscópicos de que falavam os livros? Um deles tomou conta da Terra, de todos os continentes, de todos os países e de todas as cidades. Ele é bem poderoso. E nos fez ficar em casa, mudar os hábitos, voltar para dentro de nós mesmos. E fez a gente começar a se reunir pelo tal de computador. Assim, criamos um grupo de mulheres que se reúne toda semana e, a cada semana, a gente conhece uma pessoa nova. Conhecemos a Leila, a Clarice, a Lygia, a Djamila e, desde a semana passada, estou sabendo um pouco mais de você. E quero te conhecer mais ainda.


Você é uma das pessoas mais interessantes que encontrei. A menina feia da ponte, a moça que saiu a cavalo aos 21 anos com seu futuro marido que havia saído de outro casamento, a senhora que faz doces, a doutora Honoris Causa. E, como disse Carlos Drummond de Andrade: “seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. .... Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia.”


Cora Coralina. Apaixonei-me por você! E quero te conhecer melhor. Posso ser sua vizinha, morar na casa ao lado e tomar um café com você?


[Simone Rezende, professora na UFOP]


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