Há um bom tempo falar tem sido uma grande questão na minha vida. Não sei ao certo quando minhas cordas vocais se contorceram tanto a ponto de dar um nó tão forte que parece impossível de desatar.
O ciclo que se forma quando penso em falar algo é extremamente angustiante e repetitivo:
Alguém diz algo
Eu penso em alguma coisa relacionada
Eu reflito se devo falar
Eu questiono se isso é realmente importante, se o que tenho a falar faz diferença
O coração começa a bater mais forte
O balanço das minhas pernas se intensifica
O rosto queima
Eu respiro fundo
Eu abro a boca
Não sai nenhum som
O vazio daquilo que não foi dito.
Não sei explicar o quanto é exaustivo. As voltas que dou na minha cabeça são tantas que nem sei mais como é o mundo parado. E dói. Dói muito. Não só por causa da garganta contraída e da cabeça que gira feito pião. A frustração de guardar mais uma coisa para mim, de não conseguir usar a voz, de se sentir pequena - e cada vez menor - num mundo de gigantes é o que mais me machuca.
Sei que os “obstáculos”, na verdade, são perigos. Não é possível ultrapassá-los, temos que atravessá-los. Gloria Anzaldúa deixou bem explícito isso. A travessia não é bonita, também sei disso. Sei que se eu não falar, outros vão falar por mim e talvez por meio de um discurso dominante e excludente. Tudo isso dói e não pouco.
Eu quero muito me esvaziar, Gloria. Chocar a mim mesma e ao mundo, acabar com os ruídos na cabeça deles, mas também ter um pouco de paz dentro da minha.
Estranho como dentro de mim sou barulho, mas fora sou silêncio.
[Luana Kaori Saito, estudante de Psicologia da UFSJ. Extensionista no OBESC. São João del-Rei, 20 de outubro de 2021.]
Fotografia: Rach Teo (Banco de imagens Unsplash)
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