Da minha janela, eu vejo o mundo que parou. Da minha janela, eu assisto o sol se pôr. Sossego. Da minha janela, observo interações à distância: pai e filha no parque, calangos fugindo. Da minha janela, eu sinto falta de quem está a um oceano de distância e de quem está no bairro ao lado. Saudade. Da minha janela, eu odeio a aglomeração que não deveria ocorrer, a impressão de que só eu estou na janela. Frustração. Da minha janela, eu aprecio o rosado céu de outono, enquanto a lua nasce e os planetas aparecem. Alento. Da minha janela, eu almejo o dia da saída, eu receio o dia da saída. Gosto de usar máscara, quero tirar logo a máscara, tenho medo de sair sem máscara. Da minha janela, eu me sinto inspirada a escrever, depois passa. Da minha janela, eu reconheço meus privilégios, então me arrependo de ter reclamado, aí reclamo de estar reclamando. Agonia. Da minha janela, eu choro vendo as interações à distância, choro pela ignorância, maldade e intolerância, choro pela beleza do ambiente que me cerca. E choro pelo que não sei. Mas, também rio, de bobeira, da minha imaginação, das fantasias que distraem a gente quando a realidade foge muito do ideal. Da minha janela, eu vivo um misto de esperança e temor. Da minha janela, o mundo parece voltar a andar, a passos de tartaruga. Alívio?
[Débora Caroline, estudante de Psicologia da UFSJ. 20 de setembro de 2021.]
Fotografia: Arquivo pessoal da autora
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