Fotografia do autor.
não há nada mais bonito que o céu do norte de minas. se fecho os olhos logo
consigo visualizar um feixe de luz azul inebriante... arisco e presunçoso como
ele é corre logo e se junta a luz do sol, iluminando a aridez de todo aquele chão
de terra vermelha. o ipê florido no inverno seco parece uma dor que não dói.
ninguém sabe onde termina o cerrado, ou se ele termina… há quem diga que é
até onde o coronel diz que é. tudo depois do jequitinhonha é o norte. nunca parei
pra pensar se ele realmente existe. talvez não. sei é que existe o catopê, as festas
de agosto, o arroz com pequi, o são francisco... o resto é lenda, imaginário,
afetivo.
um dia normal de quarta-feira de verão. choveu de repente. gotas pesadas caíram
do céu. fazia sol quando chovia. durou três minutos. parou de chover. saiu vapor
dos telhados. o sol reapareceu. abriu um arco-íris. a moça ficou irritada porque
tirou as roupas do varal sem necessidade.
é dezembro. o amarelo do pequi parece uma gema brotando do chão molhado.
sua flor parece uma galáxia ainda não descoberta. a cagaiteira parece querer
morrer antes da chuva, toda despida. a folha do buriti parece uma nave espacial.
tudo parece cenário de ficção científica. tudo é alienígena.
o sol de 33º nem parecia incomodar as senhoras que conversavam na praça,
embaixo da sombra da árvore. que assunto interessante pareciam conversar.
a rua estava vazia, as casas com as janelas abertas denunciavam o cheiro do
feijão para jantar.
é engraçado como tudo está diferente mas ainda continua a ser tão o mesmo.
algo deve ter acontecido. todos os dias vejo sorrisos vendados andando pelas
ruas. claro que não os vejo, mas os sinto. por um momento parece que nada
mudou, mesmo tudo tendo mudado.
o céu continua ser azul.
[Pedro Henrique, estudante de arquitetura e urbanismo da UFSJ, 11/12/2020.]
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