"As 3 Marias", de Fernando Campos Maia. Mais obras do artista podem ser encontradas no Facebook: Atelier Virtual - Fernando Campos Maia ou no Instagram: @fernandocamposmaia".
Esse texto não é sobre o vírus, é sobre amor.
Estou caminhando para o meu terceiro mês de isolamento e assim como todas as pessoas desse mundo, eu achava que isso só duraria trinta dias, no máximo. Engano meu, ou melhor, esperança minha. Mas hoje eu não vim falar sobre o vírus, porque na verdade, isso tudo tem nos ensinado mais sobre o amor.
Seria cômico se não fosse trágico, ver a geração que se acha no controle do mundo - sem julgar ninguém, eu me incluo nela- vulneráveis a algo que ensina muito mais sobre empatia e coletividade, o vírus que deixou todo mundo vivendo a angústia de não poder fazer quase nada, sendo que sempre faziam tudo.
E isso não é sobre o vírus, isso é muito mais sobre o amor.
É sobre se contentar com as chamadas de vídeo, assoprar as velas pela tela de celular. É sobre recomendar seu pai mil vezes por dia e tentar proteger sua mãe. É sobre pedir seus avós que usem máscara e passe álcool em gel. É sobre brigar com seus irmãos e meia hora depois perguntar qual vai ser o lanche. É sobre fechar os olhos todas as noites e desejar aquele momento com os amigos, uma mesa, mil cadeiras, vários copos e o brinde. Sem tela de celular, com abraços, toques e risadas. É sobre chorar de saudades. É sobre surtar mil vezes por dia e ter alguém lá pra ser sua calmaria. É sobre poder ver um filme com sua mãe. É querer guardar os mais velhos num potinho e desejar que sejam imortais. É sobre lamentar a morte de várias pessoas que você nunca conheceu, porque isso tudo é muito mais que um vírus, seria petulante demais chamá-lo de vírus do amor? Não sei, mas sei que ele veio, tirou todo mundo que sempre achava que estava no controle e aos poucos vem ensinando o valor das pequenas coisas. E quando isso tudo passar, vamos ter aprendido muito e jamais seremos os mesmos. Porque se tem alguma coisa que aprendemos com esse vírus, é que o hoje, é bem mais importante que o amanhã.
[Lais Abreu]
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