Fotografia de Bia Domingues, 2020.
Moro em uma rua cheia de árvores, com passeios largos e três bares que colocam suas mesas na calçada. Parece que a rua respira gente. Os bares estão fechados, mas isso não faz diferença pras pessoas que têm casas por aqui. A extensão de casa é a própria rua. Os vizinhos do lado parecem ser parentes dos vizinhos de duas casas pra frente e também daqueles da casa do outro lado da rua. Eles vivem indo da casa de um para a do outro e até hoje não sei quem mora em qual casa. A rua é como se fosse o pátio de uma vila, onde se passeia com os cachorrinhos todo dia, bate papo, ou simplesmente se vê o movimento. Que está tendo bastante, diga-se de passagem. Parece ter sido graças ao presidente, pois aumentou depois daquele primeiro pronunciamento criminoso. Um dos senhores, de alguma das três casas dos vizinhos que julgo serem uma família, sai todo dia. Às vezes de máscara, às vezes não. Parece realmente aleatório. Como se a ameaça dependesse do grau de preocupação que se tem naquele dia, ou da quantidade de notícia assistida, ou do pronunciamento do presidente. Como se não bastasse, o assunto preferido dos transeuntes é o tal do corona vírus. “Você viu no jornal ontem falando que a coisa tá feia? É esse tal de corona vírus né?”. E se despedem com um aperto de mão
[Ana Luiza Morais, estudante de psicologia da UFSJ, abril de 2020].
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