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Nesc

Sobre trabalho, sentimentos e expectativas



Trabalho há doze anos na área da higienização do Hospital Regional, trabalhando no setor do CTI. Todos os dias eu chego no setor e vejo o que mais está necessitado de ser realizado, em tempos de COVID, o que mais tenho feito são as desinfecções de leito que incluem parede, teto, mobília, aparelhagem, tudo para que o outro paciente possa chegar e ocupar esse leito. Tenho que fazer tudo de maneira muito rápida e ágil porque o fluxo de pacientes é muito grande, um sai e já tem outro dando entrada. O trabalho se tornou muito tenso porque você não sabe onde está o vírus. Me sinto muito preocupada, ansiosa e exposta principalmente quando sei que tem algum paciente positivado ali do meu lado. O tempo todo usando máscara, juntamente com os outros EPI 's do dia a dia, é complicado.

Os momentos de alívio vem das conversas na hora do café e do almoço onde me encontro com os outros colegas, nos sentamos e falamos sobre como está sendo nosso dia, sobre nossas vidas, isso dá uma distraída das preocupações. Porém, inevitavelmente, o principal tópico acaba sendo a pandemia, não tem para onde correr, é o assunto do momento. Mas até esses encontros estão um pouco diferentes, já que todos ficam mais distanciados, ainda que vez ou outra aconteça uma aproximação o sentimento de sempre estar alerta, prestando atenção nisso acaba ficando. O fato de eu já estar vacinada também me traz uma sensação gostosa de alívio. Mesmo sabendo que ainda existe a possibilidade da contaminação, trabalho mais tranquila sabendo que se ela acontecer pode ter a possibilidade de não agravar.

Na minha concepção, a pandemia aparece como uma possibilidade de Deus mostrar alguma coisa para gente, mas nós não estamos conseguindo enxergar o que é. Era uma oportunidade de pararmos um pouco e nos conscientizarmos mais sobre as coisas, mas não fazemos isso. Do jeito como nós, seres humanos, somos há muito para ser mudado e o que fica de reflexão para mim é que esse vírus veio para nivelar tudo e deixar todos no mesmo patamar.

Em relação a pandemia, minhas expectativas futuras é que a situação infelizmente ainda vai continuar assim esse ano e talvez um pouco do ano que vem também , mas as coisas vão se acertando. O COVID não vai acabar totalmente, mas imagino que ele se tornará como a dengue ou a H1, vão aparecer casos, mas vamos conviver como convivemos com as outras doenças. Eu tenho muita fé de que as coisas vão melhorar, só precisamos fazer a nossa parte.



[Narrativa construída em colaboração. O diálogo entre Andreia e Ana Clara é a base do texto. Andreia Cristina trabalha no setor da higienização no Hospital Regional e Ana Clara Badaró Teixeira é estudante de Psicologia da UFSJ. Barbacena, 31 de março de 2021].


Fotografia: João Lino

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