Medo. Medo não por mim, mas pelos meus filhos e netos. Quando primeiro recebi o resultado a única coisa que me vinha a mente era minha família. Seria eu a responsável por levar essa doença a alguém? Que meu Deus não permitisse.
Sentia muita dor na garganta, tosse, dor no corpo e muito cansaço, mas pior que tudo isso era o medo. Esse sentimento que manteve a humanidade viva até hoje, me paralisava e sugava todo o meu ar. Primeiro meu medo foi pelos meus familiares, mas depois passei a temer por mim, quanto mais ar me faltava, mais o medo me dominava, passei a temer não ver meus netos se formarem, meus filhos se casarem e que meu companheiro de 55 anos não tivesse mais quem cuidar dele. No oxímetro a saturação estava boa, mas puxava e não vinha ar nenhum, era como estar presa sob a água sem conseguir nadar para a superfície. Foram longos 15 dias até que eu pudesse sair do isolamento, nesse período precisei tomar Sertralina para minha ansiedade. Foi esse ansiolítico que me devolveu o ar, não um balão de oxigênio como via na televisão, foi um comprimido com nenhuma função pulmonar que me permitiu capturar o ar ao meu redor novamente.
Agora o Covid é apenas uma lembrança, algo que ficou para trás e que espero que nunca volte. Parei de usar o calmante mais ou menos uma semana depois da minha alta e de lá pra cá respiro a plenos pulmões. Não tive nenhuma sequela física, pois estava vacinada com as duas doses. Tenho consciência que a vacina foi o fator determinante no meu quadro, eu, uma mulher de 76 anos, hipertensa e fumante passiva a anos, não teria muitas chances contra esse covid, e provavelmente perderia essa batalha assim como aquela que foi minha vizinha por 55 longos anos. Durante o confinamento olhar para a casa da Maria me dava medo, hoje em dia me dá gratidão. Acredito que todos temos nosso momento de ir, e aquele não era o meu. Quando vejo na televisão reportagens sobre novas variantes sinto um arrepio em todo meu corpo, mas respiro e agradeço a Deus, a Virgem Maria e a todos os santos, mas também à ciência por estar viva.
[Narrativa colaborativa construída com base no relato de Geralda Reis (nome fictício), dona de casa, residente na cidade de São João del-Rei, em parceria com Júlia Lorrayne Santos Nascimento, aluna do curso de medicina da UFSJ. Maria também é um nome fictício. 28 de novembro de 2021. Narrativas da Pandemia: Série Eu tive Covid-19. OBESC-NESC, UFSJ, 2021].
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